Vander Piaia
A guerra econômica e o fentanil
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Donald Trump, que dispensa apresentações, conhecido em qualquer biboca do mundo, é um homem de personalidade forte, bem ao gosto do cidadão médio americano. Ele iniciou seu segundo mandato com uma mensagem muito clara, emitida ainda durante sua campanha, de que endureceria o controle de suas fronteiras e usaria de suas armas comerciais para obter apoio de seus países vizinhos.
Há uma reclamação e um desconforto cada vez mais evidente, nos EUA, com relação aos ditos imigrantes ilegais. Se, noutras épocas, eles eram o esteio da grande nação americana, hoje são sujeitos indesejados. Certamente não seria justo comparar o ambiente cultural, social e político do presente com o de outras épocas, razão pela qual soa como música, aos ouvidos dos cidadãos, as propostas do senhor presidente.
Uma das primeiras “sanções” seria sobretaxar a entrada dos produtos dos países que fazem limite com os Estados Unidos com uma tarifa adicional de 25%. A justificativa se basearia na frouxidão com a qual tais países, México e Canadá, vigiam suas fronteiras. Isso assustou sobremaneira os vizinhos, que garantiram colocar planos de controle de fronteira, que incluiria ampliar consideravelmente o número de homens vigiando (México afirmou que aumentará o efetivo na região fronteiriça com mais 10 mil homens), além de utilização de tecnologia de monitoramento e controle de ponta. Para tanto, foi proposta uma trégua de 30 dias, para que se permitam negociações e apresentação de planos efetivos de controle da fronteira.
Contudo, as restrições atingem especialmente um país do outro lado do mundo, a China. Os Estados Unidos impuseram uma sobre tarifa generalizada de 10% sobre os produtos oriundos daquele país. “Parem de enviar fentanil para nós”, bradou o nórdico presidente, buscando um bode expiatório para justificar tais medidas. O fentanil é uma droga sintética, muito usada na medicina. Devido seu poder superior em cinquenta vezes ao da morfina, muitas pessoas acabaram se viciando na substância. Estima-se que já existam 70 mil dependentes da droga nos EUA, que aliás, como toda droga forte, pode levar à morte.
A China respondeu dizendo que o problema não é deles, mas do próprio país do Trump. Porém, a verdadeira defesa da China foi anunciar uma tarifa de 15% sobre importações de energia vinda dos EUA, com um impacto relativamente moderado de US$ 5 bilhões, somados a um imposto de 10% sobre petróleo e equipamentos agrícolas americanos.
A guerra comercial entre as duas maiores potências não é novidade, contudo, pode se acirrar devido ao discurso mais agressivo do novo presidente americano. Trata-se, por fim, de guerra de gigantes, que, enquanto ficar apenas no plano da guerra econômica, traz suspiros mais de alívio do que de temor para o resto do mundo.
- Vander Piaia é comentarista econômicos e professor da Unioeste
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