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Cascavel,20/04/2024

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Exposição excessiva de crianças em redes sociais pode causar danos

Pediatras alertam para os perigos desse hábito, o sharenting

Fonte: REUTERS
Exposição excessiva de crianças em redes sociais pode causar danos

A menina Alice, de 5 anos, ama
tirar fotos e vídeos. Ela tem um perfil na rede social Instagram administrado
pela mãe, a empresária do setor de alimentos Tainara Paradelas. A mãe cuida com
atenção do perfil, feito apenas para registrar os momentos da infância da
garotinha. 

“O perfil da Alice foi feito
para compartilhar memórias e coisas engraçadas com amigos íntimos e
familiares”, conta a mãe, que usa critérios de segurança no perfil da pequena.
“O perfil dela é trancado e só pode segui-la quem eu aceito”, detalha Tainara.

Tainara e a filha
Alice - 
Arquivo pessoal

A empresária explica que a
menina não tem obrigação com o Instagram dela, “e eu não fico fazendo conteúdo
voltado para a rede. Eu tiro fotos e gravo vídeos de momentos descontraídos e
felizes para eu ter guardado, postar é uma consequência. Alice é uma criança
animada, ama foto e vídeos e, se algum dia, eu pedir para tirar uma foto e
ela não quiser, eu não forço. Mas nunca pedi ela para tirar uma foto ou fazer
um vídeo para postar no Instagram”. 

Diferentemente de Taianara, no
entanto, muitos pais e mães expõem indevidamente informações pessoais de
seus filhos menores em redes sociais, o que pode colocá-los em situação de
vulnerabilidade. Esse tipo de atitude, conhecida como 
sharenting -
termo em inglês que combina as palavras 
share (compartilhar)
parenting (paternidade) -, parte de uma tendência crescente
e que pode ter consequências indesejadas.

Impactos

A Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP) alerta para os perigos e impactos de longo prazo desse hábito
na vida dos menores.

"A criança e o
adolescente não devem ter vida pública nas redes sociais. Não sabemos quem está
do outro lado da tela. O conteúdo compartilhado publicamente, sem critérios de
segurança e privacidade, pode ser distorcido e adulterado por predadores em
crimes de violência e abusos nas redes internacionais de pedofilia ou
pornografia, por exemplo", explica a coordenadora do Grupo de Saúde
Digital da SBP,  Evelyn Eisenstein.

O coordenador do Grupo de
Trabalho de Saúde Mental da SBP, o médico Roberto Santoro, alerta que o 
sharenting traz
perigos objetivos e subjetivos ao desenvolvimento da criança: “Acho que a
gente tem que partir primeiro de uma questão de princípio. A vida da criança
não pertence aos pais. Eles são promotores do desenvolvimento da criança e
do adolescente e têm que zelar por esse desenvolvimento, para que ocorra de uma
maneira coerente e equilibrada, rumo a uma idade adulta em que a pessoa
consiga se realizar plenamente de acordo com os seus potenciais”.

Guia prático

Para atualizar pediatras, pais
e educadores sobre a influência das tecnologias de informação e comunicação
(TICs), redes sociais e internet nas questões de saúde e de comportamento das
crianças e adolescentes, a SBP publicou neste ano o 
Guia Prático de Atualização "#SemAbusos #MaisSaúde.
 

O guia destaca importantes
recomendações aos médicos sobre como avaliar na história e no exame, durante a
consulta, casos suspeitos de violência ou abusos 
offline ou online;
além de orientar os pais sobre alternativas seguras, educativas e saudáveis de
atividades para crianças e adolescentes.

A exposição exagerada de
informações sobre crianças representa uma ameaça à intimidade, vida privada e
direito à imagem, como dispõe o 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Somado a isso, todo conteúdo publicado na internet gera dados que, no futuro,
podem ser desaprovados pelos filhos, por entenderem que sua vida privada foi
exposta indevidamente durante a infância.

A mãe da Alice afirma que não
se preocupa com esta questão, pois não posta nada inadequado. “Isso não me
preocupa nem um pouco. Não posto nada que venha a envergonhar minha filha no
futuro”, garante Tainara. 

Mariah com os pais Filipe e
Aline - 
Arquivo pessoal

Assim como Tainara, o
publicitário Filipe Ferraz também é o administrador do perfil da Mariah, também
de 5 anos. “A gente que gera todo conteúdo publicado. Evitamos deixar o celular
na mão dela e dar essa autonomia. Acho que ainda é cedo, ela tem 5 anos de
idade. O conteúdo é mais viagem, brincadeiras e algumas danças. Nada vulgar,
para preservar a integridade dela”.

O pai conta que o perfil da
Mariah é despretensioso. “Não temos uma frequência nem planejamento.
Registramos ocasiões fora da rotina e novidades”. Além disso, Mariah gosta e
até pede para fazer postagens. “Quase todos os dias ela quer publicar! Ela
adora dancinhas e montagens! Filtros com carinhas então... ama!”.

Agora, quando a menina não
quer fazer alguma postagem, os pais aceitam e respeitam a decisão, conta
Filipe. “A gente respeita o momento dela. Nem sempre ela está disposta”. Para ele,
é preciso ter discernimento de como a criança será exposta. “A responsabilidade
é toda dos pais”.

Já na opinião do
médico Santoro, não há como minimizar os riscos da exposição exagerada de
crianças na internet. Para ele, esse público não deve ser exposto nas
redes. “Eu sou radical em relação a isso. A gente não tem que minimizar os
riscos de exposição da criança. A gente simplesmente não tem que expor
crianças e adolescentes, porque eles não têm ainda condições de determinar o
que é seguro e o que não é seguro em termos dessa exposição”.

Segundo ele, os pais
precisam zelar justamente pela privacidade dos filhos. “Sugiro que as
imagens de crianças e adolescentes não sejam compartilhadas livremente na
internet, a não ser com muito cuidado para pessoas muito próximas, para
pessoas da família. Eu não colocaria, por exemplo, imagens de crianças em 
sites públicos
e tomaria muito cuidado com isso”, aconselha Santoro.

Consequências

Os dados digitais das crianças
podem ser utilizados para diferentes finalidades, desde o roubo de
identidade, 
cyberbullying, uso indevido de imagens e vídeos por
pedófilos, até outras ameaças à segurança.

A coordenadora do Grupo de
Saúde Digital da SBP,  a médica Evelyn Eisenstein, destaca que a
privacidade 
online é uma garantia para que as futuras
gerações possam entrar em sua maturidade livres para construir por elas
mesmas suas identidades digitais.

"Isso é mandatório. A SBP
sempre procura destacar a importância da mediação parental em acessos a
conteúdos nas redes sociais para tentar reduzir problemas relacionados à
segurança e à saúde das crianças e adolescentes", disse Evelyn.

A psicóloga Thais Ventura
Corrêa Dominguez reforça que os pais são os principais responsáveis pela
exposição de crianças na internet. “É importante que eles estejam atentos
a resguardar a individualidade e privacidade da criança, considerando-a como um
ser de direitos, que devem ser preservados”. 

O cuidado com a
disponibilização de informações pessoais deve sempre ser considerado, completa
Thaís. “As crianças não possuem habilidade cognitiva para tal discernimento. O
estar 
on-line hoje se torna quase uma obrigação, o que muitas
vezes leva a comportamentos reativos e impulsivos de compartilhamento de
informações. Por isso, o cuidado com as ações nas redes deve ser redobrado”.

Arte Agência Brasil

Precauções 

No Brasil ainda não existem
medidas legislativas que regulem a privacidade das crianças pelos provedores de
internet. Logo, a publicação de uma foto aparentemente simples pode ter
diversas interpretações e prejuízos, mesmo anos após a postagem.

"Temos vários projetos de
lei barrados por indústrias de entretenimento, mídias e provedores que lucram
em demasia com esse tipo de compartilhamento", comentou a médica
Evelyn Eisenstein. Segundo ela, não há na legislação brasileira uma lei
como a Children's Online Privacy Protection Act (Coppa - Lei de Proteção à
privacidade online de crianças, em tradução livre), instituída nos Estados
Unidos, em 1998, para a proteção de dados e regulação da exposição
de crianças menores de 13 anos na internet.

Em agosto deste ano, o Google
anunciou o lançamento de um serviço que permite remoção de imagens pessoais de
adolescentes menores de 18 anos em seus resultados de pesquisa. Um
formulário para fazer o pedido de remoção está disponível na 
página de suporte da empresa. O Google informa,
no entanto, que essa remoção não significa que a foto será retirada da
internet, mas que deixará de ser mostrava nos resultados de busca do Google
Imagens.

O compartilhamento de imagens
e vídeos é um hábito relativamente novo, por isso as repercussões na vida
futura das crianças ainda não são totalmente conhecidas, esta é a parte
mais preocupante da exposição excessiva.

"Não são apenas os pais
que devem ser mais cuidadosos, mas também familiares e cuidadores. Eles
precisam estar cientes das possíveis consequências indesejadas para a saúde das
crianças. Não é inofensivo compartilhar conteúdo 
online",
disse Evelyn.

Para a psicóloga Thaís
Ventura, é importante a reflexão dos pais quanto aos seus interesses pessoais
em relação à exposição de seus filhos a essas tecnologias, “buscando
sempre refletir quais as necessidades e consequências de suas atitudes
referentes ao uso dessas tecnologias na influência da saúde da criança”.

Os pais que desejam
compartilhar fotos e vídeos de seus filhos podem tomar medidas protetivas
para garantir que o conteúdo não seja usado para fins maliciosos. Por exemplo,
é possível limitar o público de postagens para que apenas aqueles em quem você
confia que possam ver o conteúdo. 

 

Influencers Mirins

Com status de
celebridade, muitas crianças se tornaram influenciadores digitais. Elas
começaram com o incentivo dos familiares e muitos têm até patrocinadores.
"Essas crianças constroem uma vida falsa, de imagens e não uma vida de
experiências reais. E os pais estão colaborando para a construção de uma
personalidade moldada para agradar a imagem que fazem da pessoa, ou seja, de um
falso 
self. A criança começa a passar por essa situação desde
pequena. Muitas vezes, por trás desse perfil falso pode existir um grande vazio.
A exploração dessas crianças por parte dos pais é uma forma de abuso
infantil", apontou o coordenador do Grupo de Trabalho de Saúde Mental da
SBP, Roberto Santoro.

Na opinião do médico, essa
conduta pode interferir no desenvolvimento da criança e englobar múltiplos
aspectos como o interesse econômico e o narcisismo patológico dos pais. 

“Porque em vez da criança
seguir sua via natural de desenvolvimento, os pais podem estar usando a criança
para exibir a outras pessoas com com fins de lucro financeiros e, às
vezes, por puro narcisismo, ou seja: pais frustrados que não conseguiram
realizar suas necessidades de se destacar, então usam os filhos para atender
essas necessidades. Isso é sempre absolutamente inadequado”.

A opinião é compartilhada pela
psicóloga Thaís Ventura: “Deve-se estar atento ao natural conflito e
interesses familiares, pois a falta de entendimento e a administração
equivocada desse cenário podem resultar em exploração e afetar a saúde e o bem
estar da criança. É importante que os pais busquem conhecimento e informação
quanto a função e a exposição que seu filho está exercendo, agindo em prol de
garantir o cuidado e a saúde da criança”.

























































































Agência Brasil 




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